MANAUS (AM) – Um vídeo apresentado pela defesa da médica Juliana Brasil Santos, investigada pela morte do menino Benício Xavier, de 6 anos, contraria a principal tese dos advogados e aponta para um erro operacional da profissional no sistema de prescrição do Hospital Santa Júlia. Em imagens do mesmo sistema, que deveriam comprovar uma suposta falha automática do software Tasy, mostram, na verdade, que a médica selecionou a aba incorreta ao simular a prescrição, cometendo um equívoco básico de navegação.
No vídeo divulgado nesta quarta-feira (3), é possível ver que ao clicar em “Solução” em vez de “Medicação”, essa ação faz com que o sistema exiba apenas a via intravenosa, comportamento padrão do programa. Especialistas consultados confirmam que, caso a opção correta tivesse sido selecionada, a via de nebulização apareceria normalmente em “Medicação”. As imagens, portanto, desmontam a alegação da defesa de que o software teria alterado automaticamente a via de administração do medicamento, já que é possível ter as duas opções corretamente.
A defesa e as contradições
No habeas corpus preventivo, os advogados Felipe Braga de Oliveira e Alessandra Seriacopi Vila sustentam que uma instabilidade do sistema no dia do atendimento modificou a prescrição sem intervenção da médica, citando inclusive o depoimento de um pediatra sobre possíveis alterações automáticas em medicamentos de alta vigilância. O vídeo, no entanto, torna essa narrativa insustentável.
A Polícia Civil investiga o caso como homicídio doloso qualificado. O delegado Marcelo Martins já ouviu outros profissionais, como o enfermeiro Tairo Neves, que relatou ter trabalhado sozinho durante a reação adversa da criança, versão que diverge do relato da médica. Uma acareação entre Juliana e a técnica de enfermagem está marcada para esta quinta-feira (4).
Embora o vídeo destaque a imperícia no manuseio do sistema, especialistas ressaltam que o caso também expõe falhas institucionais graves no Hospital Santa Júlia. A exigência de treinamento adequado no software Tasy, usado em vários hospitais pelo país, é fundamental para a segurança do paciente. Além disso, equipe de farmácia e enfermagem deveriam ter questionado a prescrição e não a liberado prontamente.
A Polícia Civil do Amazonas, por meio do 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP), investiga o caso e suspeita de manipulação em provas da médica.