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Secretário admite o ‘fiasco’ na gestão de penitenciárias no Amazonas

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Manaus  –  Secretário da Administração Penitenciária do Amazonas desde setembro de 2015, Pedro Florêncio reconheceu, em entrevista à BBC Brasil, que sua estratégia “fracassou” diante de massacres que deixaram 64 mortos em cadeias do Estado apenas em 2017. E diz que não deixou o cargo somente porque o governador José Melo (PROS) não aceitou sua demissão. “Não fui embora porque o governador não aceitou minha demissão. Alguém tinha que assumir (a responsabilidade pelas mortes) e minha estratégia de trabalho se mostrou fracassada, precisa substituir. Mas o governador não pôde fazer (a demissão)”, afirmou, sem dar detalhes.

Florêncio fez as declarações, na última terça-feira, durante encontro a portas fechadas com autoridades e órgãos de direitos humanos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, ao qual a BBC Brasil teve acesso.

Na virada do ano, o complexo prisional foi palco de uma rebelião que terminou com 56 mortos, dezenas de fugas e armas apreendidas, em uma disputa entre detentos ligados às facções criminosas Família do Norte (FDN) e Primeiro Comando da Capital (PCC). Outras duas unidades tiveram oito mortes.

O secretário diz que a presença de armas de fogo dentro dos presídios do Estado é uma realidade, como foi evidenciado na maior chacina no sistema prisional brasileiro desde o Carandiru, em 1992. “Os presos têm rivalidade na rua e ela continua aqui (na cadeia). Eles precisam ter defesa, então colocam armas para dentro. E tem em todos os presídios. No Amazonas tem em todos”, afirma ele, que classifica seu trabalho como “muito ingrato”.

Florêncio afirma fazer o possível para evitar a entrada de armas de fogo nas unidades, mas diz esbarrar na “natureza corrupta” do homem, sugerindo irregularidades no próprio sistema que gerencia. “O problema é que no meio desse caminho tem uma coisa chamada ser humano, que por natureza é corrupto. As pessoas encarregadas de fiscalizar direito não o fazem. A apreensão de armas de fogo é mínima, só achamos se o preso denuncia. A capacidade que eles têm de esconder é absurda”, afirmou.

O secretário afirma que ainda há armas de fogo dentro do Compaj, e que nenhuma vistoria do Exército com detectores de metais conseguiu identificá-las – por isso recomendou que a comissão da sociedade civil que esteve no complexo na terça-feira não entrasse na unidade masculina.

Ex-policial federal, Florêncio enumera medidas que diz ter tomado para facilitar o diálogo com os presos, como mais tempo para visitas, liberação de visitas aos feriados e assistência a famílias de detentos. Mas se diz desapontado pelos resultados. “Nenhum outro secretário, o mais corrupto ou o mais opressor, tem no currículo 64 cabeças separadas de corpo. Ainda dessa forma, o resultado foi esse”, disse.

O secretário diz combater o uso de violência pelo Estado contra presos. Afirma que o Estado deve administrar detentos com o mesmo esforço que teve para prendê-los, mas admite que essa visão é “utópica”. “Isso é utopia. Falo para continuar acreditando, mas isso é fracassado. Fiz o que nunca ninguém fez aqui e olhe o resultado”, disse.

Com informações D24am /Foto: Rickardo Marques.

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