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Professor amazonense é indicado ao ‘Prêmio Nobel’ da Educação

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Manaus – Um projeto escolar que mudou a vida de uma comunidade ribeirinha na zona rural de Parintins, no interior do Amazonas, foi escolhido como uma das 50 melhores iniciativas educacionais do mundo, e permitiu ao professor parintinense Valter Pereira de Menezes, 46, ser o primeiro amazonense da história a ser indicado ao Global Teacher Prize, considerado o Prêmio Nobel da Educação e que reconhece as mais inovadoras práticas educadoras ao redor do planeta.

Finalista com outros 49 professores de diferentes países – incluindo outro educador brasileiro, Wemerson da Silva Nogueira, do Espírito Santo, o professor ribeirinho do Amazonas se diz honrado com a indicação. “Estou muito orgulhoso por ser um dos Top 50. A minha maior alegria é poder representar o Brasil lá fora, sendo um caboclo ribeirinho do meio da floresta amazônica, e levando a educação rural do Norte, a escola do campo, do Amazonas e de Parintins”, disse Valter.

Na foto, Valter e alunos com um dos filtros bioativos de areia. “A minha maior alegria é poder representar o Brasil lá fora, sendo um caboclo ribeirinho do meio da floresta amazônica”, disse o professor.

A premiação ocorrerá em março de 2017, em Dubai, nos Emirados Árabes, e o professor vencedor recebe um prêmio de US$ 1 milhão. “É a maior honraria na educação do mundo”, explicou Valter. Organizado pela Varkey Foundation desde 2014, o Global Teacher Prize tem intuito de elevar o status da profissão do educador. Mais de quatro mil trabalhos foram inscritos este ano, e é a segunda vez que professores brasileiros são indicados para a lista de 50 finalistas. Ano passado a professora Hanan Al Hroub, da Palestina, levou o prêmio.

Água para os curumins

Formado em Ciências e especializado em Metodologia do Ensino da Biologia, Valter Menezes é professor da Escola Municipal Luiz Gonzaga há 22 anos. A escola fica situada na comunidade ribeirinha Santo Antônio do Tracajá, no interior de Parintins – município a 369 quilômetros da capital. Cerca de 70 famílias residem na comunidade, que até então não tinha acesso a rede de esgoto e água potável, problema social que inspirou o projeto escolar indicado ao Global Teacher Prize chamado “Água limpa para os curumins do Tracajá”.

“Todo ano na escola fazemos a semana do meio ambiente, onde apresentamos projetos ambientais. Em 2014, um aluno nosso levantou um questionamento: por que os casos de diarreia na nossa região aumentavam em período de seca e cheia?”. Segundo o professor, a água que abastecia a comunidade vinha de um poço artesiano, porém o fornecimento não era encanado. “Sem o esgotamento sanitário, todos os dejetos humanos acabavam parando no lençol freático, contaminando a fonte de água e causando o aumento de casos de diarreia durante a subida e descida das águas do rio”.

“Comecei a pesquisar toda a problemática da água e, com o apoio financeiro de duas organizações não governamentais (Asas de Socorro e Tearfund), instalamos 180 filtros bioativos de areia nas casas das famílias que moram à beira do rio e que não tinham água encanada”, disse o professor. “Nosso objetivo era levar água potável do poço artesiano para as famílias que não tinham acesso. Foi aí que o projeto entrou em ação, levando melhorias sanitárias e construindo fossas e banheiros, além dos filtros bioativos de areia. Construímos 20 fossas”, disse.

Ajuda e atualização

Desde 2014 o projeto “Água limpa para os curumins do Tracajá” funcionava na comunidade, porém surgiu outra problemática. Em 10 a 15 anos, segundo o professor, todas as fossas estariam cheias. “Para onde jogaríamos os dejetos?”, questionou. “Foi quando conheci em um seminário em Anápolis (município de Goiás) um biológico que fazia experimento com fossas biológicas de bananeira. Aí inserimos no nosso projeto essas fossas que não agridem o meio ambiente”.

Conforme o educador, as fossas biológicas de bananeira são construídas como as convencionais, porém revestidas para isolar os dejetos humanos do lençol freático e filtrar a água através da bananeira. “A bananeira é a grande responsável. Os líquidos caem pelos lados e, como a bananeira requer água, ela faz o esgotamento sanitário. A própria raiz da bananeira suga todo o líquido da fossa. A raiz da bananeira faz a simbiose, filtra. Até chegar ao fruto a água está filtrada”, contou Valter.

Professor Nota 10

A indicação do professor Valter Menezes ao Global Teacher Prize ocorreu após ele vencer, no ano passado, também com o projeto “Água limpa para os curumins do Tracajá”, outro importante prêmio de educação, o Educador Nota 10, desenvolvido pela Fundação Victor Civita no Brasil. “Fui também o primeiro amazonense a ganhar o prêmio Educador Nota 10, em 2015”, contou Valter. Segundo ele, vencer o Educador Nota 10 ajudou o projeto “Água limpa…” ser reconhecido e, assim, indicado ao Nobel da Educação. “Um dos critérios é o professor já deve ter projeto publicado no seu País”, disse.

História de luta

Nascido em uma família de 11 irmãos, com pai pescador e mãe agricultora, os dois analfabetos, o professor Valter saiu de casa aos 7 anos de idade para estudar. “Minha comunidade, Paraná do Comprido, não tinha escola. Tive que morar na casa de amigos, em outra comunidade, para estudar. Sofri muitas dificuldades, mas eu não queria ser pescador, queria ter uma profissão”, explicou. “O caboclo da zona rural quer sim ser alguém na vida. E a única saída para a grande miséria e pobreza é a educação”, pondera Valter.

Falta de apoio

Desde a indicação ao Global Teacher Prize, no dia 14 de dezembro, o professor Valter Menezes afirma não ter recebido qualquer tipo de apoio em divulgação para o prêmio por parte dos governantes do Amazonas. “Infelizmente não há valorização. Não recebi nenhum comunicado de apoio da Seduc e Semed, enquanto com o outro colega do Espírito Santo estão divulgando na prefeitura, no Estado”, falou Valter. “A educação da zona rural também é de qualidade. Se eu fosse da capital com certeza estaria ‘bombando’. Queria poder divulgar a nossa conquista para todo o Amazonas. É algo histórico”, finalizou.

Com informações Portal Acrítica. 

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