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PM fantasiou traição de namorada antes de matar atleta, diz polícia

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São Paulo – O soldado da Polícia Militar Jarbas Colferai Neto, de 23 anos, fantasiou uma traição da namorada, uma jovem de 24 anos, com o atleta da seleção brasileira de hóquei Matheus Garcia Vasconcelos Alves, também de 24, para matá-lo. O policial foi preso na terça-feira (19), após confessar o crime em São Vicente (SP). Segundo a polícia, a traição, na verdade, nunca aconteceu.

Matheus foi baleado na nuca, na noite de segunda-feira (18). Ele foi encontrado ainda com vida na Rua Nicolau Guirão Perez, no Centro da cidade. O atleta morreu a caminho do Hospital Municipal. Na mão dele, havia um carregador de celular, mas o aparelho não foi encontrado pela polícia.

“Ele [Jarbas] confessou e deu muitos detalhes da ação. Alegou uma motivação passional, disse que a vítima perseguia a companheira dele. Por conta disso, no entendimento dele, ele fez o que fez”, explicou o delegado Carlos Schneider, que liderou as investigações. O crime foi solucionado em pouco mais de 12h.

Policial mantinha relacionamento há quatro anos com a jovem, com quem tem um filho (Foto: Arquivo Pessoal)

“Eles [Matheus e a jovem] se conheceram no colégio, onde estudaram juntos há 10 anos. Não houve qualquer envolvimento entre eles desde então, que não fosse o envolvimento de amizade”, informou o delegado, após ouvir a jovem, que prestou depoimento no Distrito Policial Sede da cidade após os fatos serem descobertos.

“Ela [a jovem] também confirmou que havia, em algumas situações, a insistência dele [Matheus] em ter um relacionamento com ela, mas a última vez que isso aconteceu foi no ano passado, por meio de um aplicativo de conversas pelo celular”, complementou Schneider, convicto de que os dois não se relacionaram.

Para a emboscada, os investigadores apuraram que o PM criou um perfil em uma rede social e se passou pela namorada, com quem mantinha relacionamento há quatro anos e tinha um filho. O PM achava que estava sendo traído e, ao manter conversas constantes com a vítima, durante seis meses, ele finalmente conseguiu convencê-lo de um encontro. O local escolhido era a casa de uma suposta prima.

Imagens de câmeras de monitoramento de imóveis localizados na rua mostram quando Matheus chega ao local em um carro, conduzido por um motorista de um aplicativo. Após a saída do veículo, o soldado o aborda, arranca o celular da mão dele, o faz virar de costas, colocar as mãos na cabeça, ajoelhar e, em seguida, atira na nuca do atleta.

A gravação foi divulgada pela polícia e ajudou os investigadores a identificarem o soldado. A hipótese de latrocínio, quando há roubo seguido de morte, foi inicialmente cogitada, em razão do celular ter sido levado pelo PM, mas descartada depois que os policiais civis localizaram mensagens que antecederam a ação.

Segundo a Polícia Militar, Jarbas é formado pelo Curso Superior de Soldados em 2016 e está lotado no 39º Batalhão da Polícia Militar, em São Vicente, “porém, não exercia atividades operacionais, estando apenas com atribuições do serviço administrativo, por responder a Processo Administrativo Exoneratório, desde o final do ano passado”.

A Justiça determinou a prisão temporária (com duração de cinco dias) do soldado, e ele foi transferido, na noite de terça-feira (19), ao Presídio Romão Gomes, na capital paulista, onde permanece detido desde então. Equipes da Corregedoria da Polícia Militar acompanharam a prisão do soldado, que foi escoltado até São Paulo.

Velório

O corpo de Matheus foi velado no Cemitério Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, onde vivia com os pais. Familiares e amigos acompanharam a cerimônia fúnebre ao longo da terça-feira, antes do sepultamento, ocorrido durante a noite. A imprensa não pode acompanhar.

O atleta jogava hóquei e chegou a integrar a Seleção Brasileira, disputando campeonatos no exterior. “Todos no Inter somos uma grande família. Assim como o Matheus, todos são muito felizes. Ele era muito feliz”, disse o conselheiro do Clube Internacional de Regatas de Santos, Emilio da Silva Junior, que estava abalado com a situação. Ele acompanhou o velório junto com colegas do time.

Segundo Emílio, ao se destacar na quadra do Inter, onde praticava o esporte desde pequeno, ele conseguiu chegar à Seleção. “Ele foi se destacando aos poucos, até conseguir essa oportunidade. Estou muito triste com tudo o que aconteceu”, disse. Familiares do jovem não quiseram falar com a imprensa.
Velório reúne familiares e amigos do atleta em Santos, SP (Foto: Renan Fiuza/G1)

Velório reúne familiares e amigos do atleta em Santos, SP (Foto: Renan Fiuza/G1)

Mais cedo, o presidente da Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação, Moacir Júnior, disse que a perda é irreparável. “Não dá para imaginar uma coisa dessas. O menino sempre teve muito talento. Eu tenho um filho de 25 anos, da idade dele, e é difícil. Nós decretamos luto e vamos homenageá-lo”.

Moacir contou que, no último sábado (16), estava mexendo nos uniformes da Seleção quando encontrou uma camiseta com umas costuras fora do padrão. “Na hora, fiquei bravo. Demorei três minutos para tirar aquilo ali. Mas depois descobri que era do Matheus. Ele era pequeno de tamanho, mas um grande jogador”.

Além de decretar luto por três dias, Matheus vai ser lembrado em um troféu, que será criado no Campeonato Brasileiro Sub-20 de Hóquei, que ocorrerá em novembro, em Santos. “É o mínimo que a gente pode fazer por ele. A camiseta dele eu vou enquadrar. Antes não tivesse tirado a costura”, desabafou.

Com informações G1

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