MANAUS (AM) – Enquanto figura entre as cinco cidades mais ricas do Brasil, com um PIB de R$ 103 bilhões – atrás apenas de São Paulo (R$ 829 bi), Rio de Janeiro (R$ 360 bi), Brasília (R$ 286 bi) e Belo Horizonte (R$ 105 bi) -, Manaus enfrenta um paradoxo: sua influência econômica não se traduz em bem-estar para a população. Um estudo do Brasil em Mapas revela que a capital amazonense tem a maior área de influência do país (36,8% do território nacional), graças ao Polo Industrial de Manaus (PIM) e ao turismo regional. No entanto, no Índice de Progresso Social (IPS) 2024, divulgado em maio deste ano, a cidade sequer aparece entre as líderes em qualidade de vida.
O Diagrama de Voronoi, método que mapeia a influência geográfica das capitais com base no PIB, mostra que Manaus domina uma extensão territorial maior que a de qualquer outra cidade no top 5, incluindo São Paulo, cuja área de influência abrange apenas 1,7% do país. Enquanto isso, o Rio de Janeiro, segunda colocada em PIB, tem a menor abrangência (0,3% do território), mas concentra riqueza e infraestrutura no Sudeste.
Apesar disso, Manaus amarga indicadores sociais preocupantes. Conforme o ranking do IPS, ficou fora do topo, dominado por Curitiba, Campo Grande, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte, todas acima da média nacional (61,9 pontos). A cidade enfrenta problemas conhecidos: saneamento básico precário, mobilidade urbana caótica, educação deficitária e desigualdade socioeconômica.
Quando se fala em exclusão urbana, bairros periféricos sofrem com habitação inadequada, transporte ineficiente e acesso limitado a saúde. Esse fato chama atenção, já que, segundo dados divulgados este ano pela Central Única das Favelas no Amazonas em parceria com o Data Favela e o IBGE, Manaus abriga duas das maiores favelas do país: Cidade de Deus, com 55,8 mil habitantes, e Comunidade São Lucas, com 53,6 mil moradores, ambas localizadas na Zona Leste.
Essas comunidades, que juntas movimentam cerca de R$ 300 bilhões por ano em renda própria – valor superior ao PIB de 22 estados brasileiros -, crescem desordenadamente, sem infraestrutura adequada, segurança ou políticas públicas eficazes. Nem mesmo o centro histórico, que deveria ser preservado, escapa das mazelas: dependentes químicos nas ruas, patrimônios públicos invadidos, ruas esburacadas e com problemas de esgoto.
Especialistas apontam que o modelo de desenvolvimento de Manaus, centrado no PIM, gera emprego, mas não redistribui os ganhos de forma equitativa. O IPS Brasil deixa claro: o progresso real depende de múltiplos fatores, não apenas do PIB, mas principalmente do olhar do poder público.