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Conheça o grupo de dança que se apresenta com lasers no toba

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São Paulo – Em uma noite de sábado, em outubro passado, fui até a boate Bloc, em Hackney Wick, um bairro ao leste de Londres que reúne fábricas, ateliês de artistas, o Estádio Olímpico de 2012 e raves toscas em armazéns. A ocasião era a Chapter 10, uma festa gay regular que toca techno, house e disco e cuja atração principal naquela noite era o Honey Dijon. Mas muita gente, inclusive eu, tinha chegado cedo para ver a performance do Young Boy Dancing Group — um coletivo de dançarinos contemporâneos vindos de toda a Europa, cujas apresentações são uma mistura de queerness e tecnofuturismo que só poderia existir na era digital. As informações são do THUMP US

Quando entrei no salão principal, parecia que estava rolando uma espécie de ritual wicca: velas demarcavam um grande círculo no centro da pista. Um dançarino com um protetor genital no meio da cara, uma loira usando apliques de cabelo como se fossem um cinto e outros dançarinos em shortinhos bondage circulavam lentamente pelo espaço. Eles brandiam amuletos de metal que lembravam incensários clericais, ao som de uma faixa com uma vibe pesada de canto litúrgico da trilha sonora de Ghost in the Shell, antes de se amontoarem todos uns por cima dos outros no que parecia uma partida complexa de Twister.

O Young Boy Dancing Group na Chart Art Fair

Depois, eles se espalharam por vários cantos do salão, e cada um deles inseriu um laser verde no ânus. A apresentação logo virou um caos total, com membros do grupo se debatendo loucamente, organizando um mosh pit e surtando ao som de um remix dance desacelerado e nervoso de “Only Time”, da Enya

Mas o Young Boy Dancing Group não se apresenta só em boates. A apresentação deles naquela noite coincidia com a Frieze Art Fair, e desde 2014, eles já se apresentaram diversas vezes em cenários artísticos, como o Pavilhão Lituano da Bienal de Veneza, a Manifesta (Bienal Europeia de Arte Contemporânea), em Zurique, o Arti et Amicitiae, em Amsterdã, e o MAMA, em Roterdã.

Circular por galerias de arte com um laser no seu cu pode parecer algo ridículo — ou um truque barato para chamar a atenção do público. Mas a curadora Mette Woller — que incluiu o Young Boy Dancing Group em um programa de mostras chamado “The Curves of the World”, na Chart Art Fair, em Copenhague, no último verão — me explicou que a esquisitice é deliberada. “Eles desafiam noções de gênero e sexualidade e constantemente questionam cenários institucionalizados”, ela afirma. “[A performance] ou faz você chorar, ou se ofender.”

Para saber mais sobre os conceitos de queerness e sexualidade por trás do trabalho do Young Boy Dancing Group, recentemente falei com um dos co-fundadores do grupo, o suíço Manuel Scheiwiller, que, na época, estava “fugindo do inverno” em uma viagem a Cuba e Porto Rico. Dê uma conferida nas próximas apresentações do YBDG na página deles no Facebook, porque, acredite em mim, você não viveu ainda se não viu a luz de um laser fluorescente refletida em um milhão de direções diferentes, em um globo espelhado, cuja origem é o cu de um cara.

Assista: 

Foi necessário fazer alguns testes para achar os lasers perfeitos?

Não pesquisamos. Temos lasers diferentes. Um deles precisa ser preso com fita adesiva para não cair, é muito irritante. Então achamos outros que não caem. Mas todos têm o mesmo brilho. Teve um cara que se juntou à apresentação em Berlim, um dia, e ele tinha um laser enorme. Eu o vi tirando o laser — sempre colocamos uma camisinha no laser para que ele fique minimamente limpo — e a camisinha dele estava ensanguentada. Foi nojento. Fiquei tipo: “Ele está indo longe demais, é muito grande!”

O Young Boy Dancing Group na Chart Art Fair

Vocês se apresentam em galerias de arte, mas também em ambientes noturnos como a Chapter 10 e o clube Silencio, do David Lynch. Um tipo de espaço parece mais “adequado” do que o outro para o projeto?

Essa é uma boa pergunta. Fizemos uma apresentação num clube em Viena. Lá, alguém, tipo um estranho, enfiou o laser do Tommy de volta no cu dele. E isso foi demais para nós. Depois disso, dissemos: “Ei, não queremos nos apresentar em festas”. Porque as pessoas valorizam a performance de um jeito muito diferente — às vezes, elas estão assistindo a partir de uma perspectiva embriagada. Então, na verdade, preferimos nos apresentar em espaços artísticos. Mas tivemos uma experiência muito boa na Chapter 10.

 

Expressoam:

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