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Amazonas vive epidemia de sífilis: falta de uso da camisinha é a principal causa

STD test blood analysis collection tube selected by technician. Serial number is random, labels and document are fictitious and created by the photographer.

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Manaus – O número de casos de sífilis (doença sexualmente transmissível provocada por uma bactéria) vem aumentando no Amazonas. Este ano, o Ministério da Saúde divulgou que o país vive uma nova epidemia de sífilis.

  • Segundo especialistas, a atual epidemia tem causas multifatoriais, como a falta de medicamentos, a baixa qualidade dos exames pré-natal e a falta de uso de preservativos nas relações sexuais.
  • A maior preocupação é com a transmissão de mulheres grávidas para os fetos. A doença pode provocar aborto e más-formações no bebê.
  • A principal forma de transmissão da sífilis é pelo contato sexual e por isso o uso da camisinha é a melhor arma de prevenção. Nos últimos anos, pesquisas revelam que o uso de preservativos tem diminuído no Brasil, principalmente entre a população jovem.

O Brasil vive uma nova epidemia de sífilis, uma doença sexualmente transmissível (DST). O Ministério da Saúde divulgou dados recentes mostrando que o número de pessoas infectadas no Brasil aumentou 32,7% entre 2014 e 2015, chegando a 65.878 casos no ano passado. O aumento é considerado expressivo em todas as faixas etárias.

As gestantes constituem um dos grupos de maior risco. Os casos de sífilis congênita (transmissão da mãe grávida com sífilis para o bebê) cresceram de forma espantosa. A taxa de bebês com sífilis congênita em 2015 foi de 6,5 casos a cada mil nascidos vivos – 13 vezes mais do que é tolerado pela Organização Mundial de Saúde e 170% a mais do que o registrado em 2010.

A bactéria da sífilis é capaz de atravessar a barreira placentária e infeccionar o feto durante a gestação ou na hora do parto. As consequências podem ser graves para o bebê e ocasionar problemas físicos, mentais e até a morte.

Segundo especialistas, a atual epidemia tem causas multifatoriais como a falta de medicamentos, a baixa qualidade dos exames pré-natal e principalmente a falta de uso de preservativos em relações sexuais.

A sífilis é uma doença muito antiga e ficou conhecida no século 14, na Europa. O termo sífilis originou-se de um poema, com 1.300 versos, escrito em 1530 pelo médico e poeta Girolamo Fracastoro em seu livro intitulado Syphilis Sive Morbus Gallicus (“A sífilis ou mal gálico”). Ele narra a história de Syphilus, um pastor que amaldiçoou o deus Apolo e foi punido com o que seria a doença sífilis.

Durante a Idade Média, a doença era considerada muito perigosa e fez milhares de vítimas. O impacto foi tamanho que a infecção foi considerada pela Igreja como um castigo dos céus. Ao longo da história a sífilis foi a causa da morte de muitas personalidades, como o poeta Charles Baudelaire (1821-1867), o escritor Oscar Wilde (1854-1900) e o gângster Al Capone (1899 – 1947).

Foi apenas no final do século 19, com as pesquisas de Louis Pasteur, que a ciência constatou que a sífilis estava relacionada à ação de microorganismos presentes no corpo. Mais tarde, o médico Alexander Fleming (1928) descobriu a penicilina, substância que inibia o crescimento de certas substâncias. Ela foi o primeiro antibiótico usado com sucesso no tratamento de infecções causadas por bactérias e contribuiu para diminuir a incidência da doença nas décadas seguintes.

Também chamada de cancro duro, a sífilis é causada pelo contágio com a bactéria Treponema palidum, que pode ser transmitida facilmente por meio do contato com feridas ou lesões de pessoas infectadas, através de transfusões sanguíneas e durante a gravidez ou parto, da mãe para o filho.

A infecção causa o aparecimento de uma ferida nos órgãos sexuais. Ela se caracteriza por ter bordas elevadas e avermelhadas. Esses sintomas podem desaparecer no estágio mais avançado da doença. Depois de semanas ou meses, podem aparecer manchas no corpo, especialmente nos pés e mãos. Se não tratada, a sífilis pode provocar paralisia, cegueira, problemas cerebrais, respiratórios e cardíacos. Ela ainda pode facilitar a transmissão de HIV, o vírus da AIDS.

O tratamento é relativamente simples, feito por antibióticos. A pessoa e seu parceiro devem ser tratados. O Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe de um teste rápido, capaz de diagnosticar a doença em até 30 minutos.

A principal forma de transmissão da sífilis é pelo contato sexual e por isso o uso da camisinha é a melhor arma de prevenção. Em outubro deste ano, o Ministério da Saúde iniciou novas campanhas publicitárias para alertar a população dos perigos da doença e orientar quanto à prática do sexo seguro.

Pesquisas revelam que o uso de preservativos tem diminuído no Brasil nos últimos anos. De acordo com dados do Ministério da Saúde divulgados em 2015, 45% da população sexualmente ativa do país não havia usado preservativo nas relações sexuais nos últimos 12 meses. Os dois motivos alegados pela maioria das pessoas é que a camisinha ‘reduz o prazer’ e que existe confiança no parceiro. Como resultado, o número de casos de DSTs voltou a crescer.

O uso do preservativo começou a se intensificar após a descoberta do vírus HIV, na década de 1980. Neste período o HIV era considerado fatal. Com o aumento da prevenção, a sífilis se tornou uma doença cada vez mais incomum no Brasil e no mundo. A partir dos anos 2000, novos tratamentos para a AIDS começaram a surgir e a população passou a se preocupar menos com o uso de preservativos. A partir dos últimos cinco anos, o número de casos voltou a subir. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia, os brasileiros de 13 a 15 anos são os que menos se protegem na hora da relação sexual.

A diminuição do uso do preservativo não acontece apenas no Brasil. Ela é uma tendência global e está causando o reaparecimento de antigas DSTs nos Estados Unidos e na Europa.
Além da mudança comportamental da população, outro fator que contribuiu para a atual epidemia de sífilis é o desabastecimento da penicilina benzatina do mercado. Esse antibiótico é essencial para o tratamento de sífilis e está em falta em muitos postos de saúde e hospitais públicos. Em janeiro, um levantamento feito pelo Ministério da Saúde apontou que 60,7% dos estados brasileiros relatavam desabastecimento de penicilina. Essa situação dificulta o tratamento de infectados. Também faltam recursos para o diagnóstico da doença, feito por exames laboratoriais.

Há ainda mais um fator para preocupação. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que três das DSTs mais comuns estão ficando intratáveis: sífilis, clamídia e gonorreia. O problema é o uso inadequado e exagerado de medicamentos. As bactérias responsáveis por essas doenças estão se tornando cada vez mais resistentes aos antibióticos utilizados no tratamento. A OMS recomenda uma mudança nos tratamentos para essas doenças, como o uso do antibiótico certo para cada caso e em doses mais controladas do que se tem usado até agora.

Por Carolina Cunha, da Novelo Comunicação

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